Líderes locais discutem as barreiras e preocupações que os cidadãos naturalizados podem ter no dia das eleições
Por Tiffany Rivera, em 30 de setembro de 2024.
No dia 5 de novembro, os eleitores comparecerão aos seus locais de votação para escolher o próximo Presidente dos Estados Unidos. No entanto, em uma cidade como a Filadélfia, é provável que muitos eleitores imigrantes possam se sentir vulneráveis ao ir às urnas, pois o processo de votação pode ser uma experiência desafiadora.
Na quinta-feira, 18 de setembro, o Comitê dos Setenta (Committee of Seventy) se associou ao Centro de Boas-Vindas (The Welcoming Center) e ao Museu da Revolução Americana (The Museum of The American Revolution) para discutir os obstáculos que os eleitores imigrantes podem enfrentar, no evento "Caminhos para as Urnas: Melhorando a Participação dos Eleitores Imigrantes" (Pathways to the Polls: Enhancing Immigrant Voter Participation). O bate-papo, moderado por Jennifer Rodríguez, presidente e CEO da Câmara Hispânica de Comércio (Hispanic Chamber of Commerce), revelou a importância das informações eleitorais entre os novos cidadãos eleitores da Filadélfia e as diferentes maneiras de como a cidade pode orientá-los, para proporcionar uma boa experiência nas urnas.
O painel foi composto por Miranda Alexander, fundadora da Comunidade Caribenha de Filadélfia (The Caribbean Community of Philadelphia); Vivian Chang, diretora executiva da Asian Americans United; Will Gonzalez Esq., diretor executivo da Ceiba, uma organização latina sem fins lucrativos; e Al-Sharif Nassef, gerente de campanha do All Voting is Local.
Rodríguez afirmou que, em 2024, aproximadamente 16% da população é estrangeira, o que significa que o voto pode ser um fator decisivo nestas eleições presidenciais, em novembro.
“O poder está aí para ser conquistado; os imigrantes neste Estado podem realmente ser o ponto de virada desta eleição se os ajudarmos a perceber o quão importante é votar, o quão significativo é o voto deles para os resultados das eleições a nível nacional”, disse Rodríguez.
Segundo o Centro de Pesquisa Pew, cerca de 1 em cada 10 eleitores aptos a votar nos EUA são cidadãos naturalizados. A pesquisa também indicou que o governo tem processado as solicitações de cidadania estadunidense no ritmo mais rápido dos últimos anos. Embora apenas imigrantes naturalizados possam votar, Rodríguez enfatizou que outros imigrantes podem participar do processo cívico "se voluntariando no Dia das Eleições".
“Você [cidadã e cidadão não votante] pode participar da esfera cívica. Há questões que são importantes para você, e você tem familiares e amigos que provavelmente são elegíveis para votar”, acrescentou. “Então, certifique-se de ajudá-los a se registrarem, se ainda não o fizeram, mantenha-os informados e incentive-os a ir às urnas”. Rodríguez continuou: “Há muito trabalho e muitos papéis que as pessoas que ainda não se naturalizaram podem desempenhar no processo eleitoral”.
Construindo confiança dentro da comunidade
Chang contribuiu em sua fala a respeito da falta de confiança que alguns eleitores imigrantes podem sentir em relação ao sistema de votação e da importância de como conquistar essa confiança. Os eleitores imigrantes podem achar que há falta de representação nos candidatos e se envolverem menos no processo de votação.
“Muito se fala a respeito da representação [imigrante nos candidatos] e do que motiva as pessoas. O que vai construir essa relação duradoura de confiança é sabermos que os candidatos eleitos nos apoiam; eles estão realmente protegendo nossas comunidades da deportação?”
Ainda no mesmo dia do evento, a prefeita Cherelle Parker anunciou seu apoio à construção de uma nova arena para o Philadelphia 76ers, em Chinatown, um projeto que tem dividido a cidade. Desde o anúncio da possível construção, a maioria dos moradores de Chinatown e dos empresários asiáticos demonstraram descontentamento.
Chang deu o exemplo de como essa situação pode motivar ou desmotivar as pessoas. Os membros da comunidade podem estar realmente apaixonados pela política local; no entanto, se suas vozes e preocupações não forem ouvidas, isso pode destruir a confiança que têm em seus políticos locais.
“Muitas vezes, vemos o engajamento dos habitantes nas eleições locais, pois sentem que, ‘Ah, posso encontrar meu vereador, ele mora na minha rua ou o vejo no bairro’, o que ajuda as pessoas a estabelecerem uma relação mais próxima com o governo”, complementou.
“Mas se o que acontece depois é: ‘Ah, minha comunidade será destruída para a construção de uma arena. Eu liguei para o meu vereador, ou para o prefeito, fui às reuniões e não está adiantando’, então isso não motiva muito as pessoas a votar”, continuou.
Nassef também mencionou que muitos moradores se sentem impotentes e desmotivados a votar quando acreditam que seu voto não fará diferença.
“Basicamente, emitiram um relatório dizendo que os Estados Unidos não são mais classificados como uma democracia. Esta é uma realidade muito triste e alarmante, onde somos considerados uma plutocracia, em que o dinheiro basicamente dita a política em vez das pessoas”, disse ele. “Se realmente quisermos ver nosso país cumprir sua promessa, temos que fazer tudo o que pudermos para tirar o grande volume de dinheiro da política”.
Há algumas organizações na Pensilvânia que estão fazendo exatamente isso. Por exemplo, a March on Harrisburg, uma organização de base apartidária que foi criada na primavera de 2016 e começou com uma marcha de 225 quilômetros da Filadélfia a Washington D.C. Essas organizações estão usando suas vozes para garantir que os bilionários não invistam dinheiro nas eleições.
“Cada vez que bilionários injetam grandes quantidades de dinheiro nas eleições, as pessoas pensam: 'sabe de uma coisa, não importa se ‘este; ou ‘aquele’ partido for eleito, não sinto que minha realidade ou vida esteja melhorando com nenhum deles, porque eles estarão ligados a interesses especiais’”, disse Nassef.
Desinformação, notícias falsas e acessibilidade ao inglês são desafios importantes para o voto dos imigrantes
Outras preocupações surgiram no evento, entre elas a confusão a respeito dos locais de votação. Muitos cidadãos nascidos nos EUA sabem como chegar ao local de votação, mas a situação não é a mesma para os cidadãos naturalizados. Há os casos em que a pessoa não consegue se comunicar em inglês, e outros em que podem estar confusos a respeito do processo todo para votar.
Por exemplo, os cidadãos podem não saber como se registrar para votar online devido à barreira do idioma. Organizações como o Centro de Boas-Vindas (The Welcoming Center - TWC) estão disponíveis para ajudar com o processo de registro para votar e orientar os imigrantes a respeito de como chegar às urnas. O TWC também oferece aulas gratuitas de inglês e outros workshops para imigrantes, incluindo programas de empreendedorismo que oferecem assistência técnica e cursos de planejamento de negócios.
Nassef diz que o bom governo e a democracia representativa são formas de envolver mais pessoas. No entanto, ainda existem barreiras linguísticas, que Nassef espera que diminuam.
“Temos sorte de que aqui na Filadélfia haja recursos disponíveis de nossos candidatos eleitos, orientações em vários idiomas. Me antecipo em compartilhar aqui com vocês esta nova informação: o Departamento de Estado vai divulgar em breve se haverá materiais disponíveis em uma vasta gama de idiomas, algo sem precedentes no estado da Pensilvânia”, compartilhou.
Muitas vezes, os imigrantes são vistos como um grupo homogêneo, mas durante a discussão, Alexander destacou que nem todos os imigrantes são iguais.
“Quando você é um refugiado ou uma pessoa pertencente a uma minoria étnica, as barreiras são maiores. Tudo se torna muito mais difícil. E a marginalização e o afastamento do direito ao voto, faz tudo ficar muito mais difícil”, explicou.
Chang afirmou que, para que os cidadãos se envolvam mais no processo eleitoral, é importante que eles participem da política local. Isso significa não apenas votar nas eleições presidenciais, mas também votar duas vezes por ano nas eleições locais.
“Há questões que estão muito mais próximas do coração das pessoas, então como despertamos isso? Porque acho que o que todos estamos dizendo é que votar é uma prática, é um hábito”, disse ela.
Gonzalez expressou que uma maneira de motivar os cidadãos mais jovens a votar é ensinar-lhes a importância do voto desde cedo. Essas crianças depois conversarão com seus pais a respeito de como seu voto é importante.
“Penso que algumas das iniciativas feitas com os jovens darão frutos”, disse ele. “Costumávamos fazer alguns eventos com o Comitê dos Setenta para engajar as crianças, não porque estavam prestes a completar 18 anos, mas apenas para envolvê-las e tê-las como mensageiras confiáveis de seus pais”.
É necessário um investimento real para levar mais pessoas às urnas
Outro tema mencionado foram as barreiras financeiras dentro da comunidade imigrante. Por exemplo, Gonzalez afirmou que muitas famílias imigrantes que estão se estabelecendo podem não conseguir pagar por um novo documento de identificação. Elas podem até perder a certidão de nascimento durante o processo de regularização.
“Os eleitores precisam apresentar um documento de identificação, que custa US$41,50, o que é caro para uma família de baixa renda. Também há a falta de certidões de nascimento, o que pode ser difícil para alguém. Há muitos desafios.”
Outros impedimentos podem surgir. Muitos cidadãos, naturalizados ou nascidos no país, podem não conseguir o dia de folga no trabalho para votar. Muitos empregos, como na indústria de restaurantes, não oferecem tempo livre para votar. Este é um elemento crucial, entre várias outras razões pelas quais os votos de imigrantes estão em baixa.
Em países como Brasil, Austrália e Bélgica, votar é uma ação obrigatória. Eles devem comparecer às urnas, mesmo que não pretendam votar. No entanto, se os cidadãos desses países não comparecerem, eles são obrigados a pagar uma multa.
Algumas pessoas acreditam que essa lei é alarmante, porque leva ao voto cego. Às vezes, os cidadãos não pesquisam seus candidatos, o que leva ao caos e a um vencedor injusto. Na Austrália, o termo “Voto Burro” se refere ao ato de os eleitores escolherem um candidato sem pensar, simplesmente selecionando o primeiro nome na cédula.
No entanto, países como os Estados Unidos e o Canadá não têm essas leis. Por um lado, os Estados Unidos estão protegidos pelas Emendas à Constituição dos EUA e pela criação da Lei de Direitos de Voto.
Como a Pensilvânia é um estado decisivo, Gonzalez mencionou a importância de cada voto: “A decisão da eleição está nas mãos do povo da Pensilvânia.”
Ele também fez um apelo à população latina, que historicamente tem baixa participação eleitoral: “Quando olhamos para os jovens latinos, vemos uma população em crescimento que tem poder político. Agora você tem o poder político em suas mãos. Use-o.”
Este artigo faz parte do Every Voice, Every Vote, um projeto colaborativo gerenciado pelo The Lenfest Institute for Journalism. O suporte principal para o Every Voice, Every Vote em 2024 e 2025 é fornecido pela William Penn Foundation com financiamento adicional do The Lenfest Institute for Journalism, Comcast NBC Universal, The John S. and James L. Knight Foundation, Henry L. Kimelman Family Foundation, Judy and Peter Leone, Arctos Foundation, Wyncote Foundation, 25th Century Foundation e Dolfinger-McMahon Foundation. Para saber mais sobre o projeto e ver uma lista completa de apoiadores, visite www.everyvoice-everyvote.org. O conteúdo editorial é criado independentemente dos doadores do projeto.